Crescimento de Igreja
Crescimento de Igreja




Qual é o segredo do crescimento da igreja? Fabiano Gomes, pastor no Parque Continental I, doutorando em ministérios analisa a questão mais discutido nos ultimos tempos por teólogos, sociólogos e cientistas da religião


Qual é o segredo de uma igreja que cresce? O que podemos aprender a luz das Escrituras sobre o crescimento de igreja?Como reproduzir em outros a imagem de Cristo? Como garantir o sucesso de uma mentoria respaldada no amor e no compromisso? As últimas palavras de Jesus (Lc 24.46-49) deveriam sempre chamar a nossa atenção. Nesse capitulo, Lucas registra algumas das últimas palavras de Jesus aos seus discípulos. Ele os preparou durante mais de três anos. Agora, eles estavam prontos para sair pelo mundo como líderes, sendo eles mesmos preparadores de novos líderes.

Todo o trabalho de Jesus teria sido inútil, a menos que seus seguidores tivessem tomado aquilo que ele lhes entregou e tivessem reproduzido isso em outras pessoas. Depois de seu ministério terreno, Jesus confiou o futuro de sua “organização”, a Igreja, a ex-pescadores e ex-coletores de impostos. Jesus valeu-se de pelo menos 12 fatores para reproduzir sua liderança:

(1) Visão (Mt 4.19); (2) Confiança (Mt 10.8); (3) Comprometimento (Mt 16.24); (4) Proximidade (Mc 3.14); (5) Responsabilidade (Mc 6.7); (6) Iniciativa (Lc 6.12-13); (7) Conhecimento (Lc 8.9-10); (8) Avaliação (Lc 10.17-24); (9) Exemplo (Jo 13.15); (10) Amizade (Jo 15.15); (11) Poder (Jo 20.22) e, (12) Comissionamento (Mt 28.18-20);

O trabalho de Jesus não só exemplificou o modelo de mentoria, mas, confirmou o que Deus colocou no coração de Jetro (Ex 18.19-26) fazendo de Moisés um reprodutor.

Para isso, Moisés fez algumas mudanças como líder: Tornou-se homem de oração (v.19); Comprometeu-se com a comunicação; Expôs uma visão; Desenvolveu um plano (v.20); Escolheu e treinou lideres (v.21); Liderou-os para que realizassem o trabalho; Fez apenas o que podia fazer (v.22). O resultado é que o povo foi fortalecido (v.23).

Para que a reprodução aconteça é necessário levar a sério:
A verdade imutável da Palavra de Deus. A Escritura deve transformar o nosso interior;
A verdade imutável deve ser proclamada em seu poder por meio dos relacionamentos confiáveis, íntimos e duradouros;
A igreja deve gerar um relacionamento transparente por meio do grupo de discipulado, lugar de aprendizado, comprometimento e sinceridade.
O grupo deve também cultivar a responsabilidade mútua autorizando os parceiros a fazerem discípulos e garantindo que o compromisso seja honrado.

Fazer discípulos hoje requer vulnerabilidade relacional, isto é relacionamento sincero e transparente. Requer centralidade da verdade e, responsabilidade mutua. Não é possível reproduzir por meio dos métodos de produção em massa, mas ganhando, discipulando e mentoriando a um a um.

A tabela de Keith Phillips mostra a diferença numérica entre uma pessoa por dia aceitando a Cristo e uma pessoa por ano sendo discipulada para alcançar a maturidade (*). Antes mesmo de nos preocupar com a numeração é necessário preocupar com a reprodução.

Isso mostra que a igreja sadia cria. Ovelha sadia da cria. Isso está no DNA. Ovelha sadia segue a paz e a santificação (Hb 12.14), isto é, mostram às pessoas a pessoa de Jesus Cristo por meio de sua pessoa com exemplos e atitudes.

Uma pessoa depravada e, que não foi alcançado pela regeneração é uma pessoa que reproduz depravação. Veja a história do sapo e escorpião que mostra a natureza dramática do escorpião que conduziu ambos a morte. Isso indica que a natureza pecaminosa do homem pode conduzir outros a queda. Por essa razão que Jesus Cristo veio para tirar essa natureza pecaminosa para vivermos uma vida em transformação.

A vida em transformação é fruto da regeneração e, quando houver pecado em estado de acidente e arrependimento demonstra uma vida de transformação. Para viver essa transformação é necessário mentoria, discipulado, acompanhamento redentiva.

Para sermos transformados (curados) é preciso primeiramente confessar os pecados para outras pessoas que nasceram de novo, na seqüência orar para que haja cura, em alguns casos, é necessário um processo terapêutico. Para sermos perdoados confessamos a Deus, para sermos curados é necessária outra pessoa que seja seu mentor. “Mentoria conduz a transformação e restauração”.

Um dos ingredientes para ser mentor, discipulador é necessário ter firmeza, paciência e ética, pois o que é tratado no discipulado deve ficar exclusivamente entre mentor e aprendiz.

Para sermos discípulos ou aprendizes é fundamental deixar o orgulho, permitir que o nosso “ego” seja substituído pela pessoa de Cristo. O aprendiz deve incomodar o seu mentor, deve claramente ir à atrás do seu mentor. Independente de quem seja o seu mentor, Deus trará a transformação e a restauração.

Uma vida transformação é uma vida em sinceridade, no latim, sem cera, isto é, sem mascará. É preciso ser curado e para isso não depende do mentor, da igreja, do pastor, da equipe, mas, precisa apenas do próprio aprendiz em confessar e viver uma vida sem mascará.

É preciso deixar de lado o mau cheiro da morte e para isso é necessário que o mau cheiro venha à tona por meio da confissão. Somente assim haverá restauração. O ideal é que vidas arrependidas sejam mentoriadas e assistidas e como conseqüência transformada. Todavia, não basta apenas isso, é necessária a garantia de que as pessoas serão pastoreadas.

Muitas pessoas vivem em estado de rebelião, não desejam estar de baixo de mentoria, de pastoreio e, portanto vivem rodeados de demônios, pois elas estão mais abertas a fazerem o que as suas vontades e os desejos malignos.

O discipulado um a um é uma evidencia de uma mentoria, aconselhamento pastoral ou terapia redentora que proporciona cura interior, transmissão de conteúdo restaurador e, prestação de contas e por fim reproduz a semente de Cristo em nossas vidas.

Ser aprendiz é ter um guarda-chuva que protege e guarda, isto é, estar debaixo da liderança que Deus colocou a fim de que haja confissão, mentoria, aprendizado e pastoreio.

Quem fica debaixo do guarda-chuva cresce e ainda reproduz. Deus quer que todos coloquem para fora o que está causando males no corpo e, para isso é necessário um mentor habilitado.

O Teólogo Abe Huber especializado em discipulado estabeleceu um programa de discipulado que denominou M.D.A. E, significa “modelo de discipulado apostólico” descrevendo a origem da igreja de Atos, chamam de micro célula. Isto é, cada micro célula tem duas pessoas. Outra definição é “meu discípulo (discipulador) amado”. O objetivo é que cada pessoa inserida em uma célula pastoreia uma pessoa causando um verdadeiro avivamento.

Avivamento reflete gratidão e lamentação. Isto é, por um lado uma vida de gratidão por aquilo que Deus esta operando, mas, não se conformando apenas com poucas coisas em comparação ao que Deus é.

Quando a igreja não executa os mandamentos deixados pelo Senhor ela paralisa, e o pior é quando chega a um estágio em que a Igreja fica satisfeita. A satisfação paralisa. A gratidão valoriza. É essencial discernir o tempo. Esse é o momento que Deus preparou para fazer do Brasil uma terra de formadores de agente de transformação. Essa é a oportunidade, e para ir da oportunidade ao êxito é preciso enfrentar os medos de mudanças, romper com o mesmo e ter a capacidade de se antecipar. Quem não tem medo se sente satisfeito, tranqüilo e distraído.

Os grandes momentos da história da Igreja refletem a presença do medo de homens que tiveram coragem para mudar. Mudar é complicado, sem dúvida, mas acomodar é perecer. A estratégia de Jesus Cristo mudou a história e, o sistema do cristianismo romano paralisou devido à satisfação. A estratégia dos Reformadores mudou a história e, o sistema do comodismo proporcionou satisfação. Os grandes evangelistas mudaram a história e é assim com essa nova oportunidade.

Podemos mudar a história com os métodos de discipulado de Jesus Cristo, com o conteúdo dos reformadores e com a paixão dos evangelistas por pessoas depravadas e plenamente alienadas.

Abe Huber em sua conferência respondeu quatro questões essenciais sobre o sucesso do discipulado um a um – método inédito, mas, está mudando vidas e a história do cristianismo no Nordeste do Brasil.

O que podemos fazer para garantir o sucesso do discipulado quando ainda não há um mentor? O que podemos fazer para garantir o sucesso do discipulado quando há discípulo e mentor? O que podemos fazer para garantir o sucesso do discipulado quando o mentor não tem caráter? O que podemos fazer para garantir o sucesso do discipulado quando o mentor não tem disposição de tempo?

Quando não há mentor, o aprendiz não deve sair criticando, nem mesmo ficar esperando, mas, em cumprimento do Evangelho de Mateus 18.5 deve procurar o seu líder e desejar ardentemente um discipulador. É Fundamental que primeiramente o interessado esteja sob a cobertura de um grupo pequeno. Dentro do grupo deve haver um “Timóteo” que estará pronto para ser um mentor.

Com relação a segunda e terceira questões, é fundamental primeiramente fazer a parte que deve, isto é, o aprendiz deve procurar o seu mentor não importando com a situação do mentor, mas, não deve ficar satisfeito com a situação.

O que fazer quando o mentor não entra em sua vida, não acompanha e o pior está em estado de pecado? Poderia sair em estado de rebelião e isso causará mais dores. Poderia ficar estagnado e esperando ver o que acontece e isso gera ainda mais dores.

É essencial que a conversa, o diálogo e a sinceridade aconteçam no relacionamento entre aprendiz e mentor. É evidente que esse diálogo aconteça com sabedoria, com elogio, com correção e coragem para transmitir a verdade transformadora. Não funcionando, será necessário procurar os lideres e promover a mudança. Quando existe pecado não confessado é necessário dialogar, conversar e etc. Isto é, em todos os casos é necessário ternura, respeito, carinho, etc.

Para o sucesso do trabalho é preciso que todos saibam os seus deveres. Quanto aos discipuladores, não pode jamais querer dominar, mas, servir, ajudar e elevar a pessoa com atitude humilde e como sendo modelo. O mesmo principio do pastor deve acontecer com os lideres de grupo e com os “Timóteos”.

Não podemos levar as ovelhas para o matadouro, mas, conduzir aos campos tranqüilos para saciar suas vidas. Cuidar de cada vida, relacionando e permitindo a confiabilidade e a credibilidade – segredos jamais podem ser compartilhados para outros – permitindo que tal ovelha reproduza outras ovelhas.

É necessário que o pastor proteja a sua ovelha, isto é, guarde diante de Deus a ovelha, não transmitindo para frente o que é segredo. Na igreja com o culto de celebração os discípulos recebem de Deus a palavra de transformação, nos grupos pequenos são possíveis os compartilhamentos e no discipulado um a um o compromisso de cuidar e fortalecer a comunhão.

Por meio do discipulado, é possível enxergar o ser humano como todo, não apenas como ser espiritual, mas, cultural e social, não apenas isso, mas, interagir com a mente, vontades e emoções.

A igreja seguidora de Jesus Cristo deve enxergar o homem na sua totalidade. Veja os cinco fatores essenciais que ajudarão a obter o sucesso por meio do discipulado individual contemplando o homem integral.

1. No discipulado é possível concentrar-se nas necessidades individuais, pois existe prioridade.

2. É possível ao discipulador trabalhar com problemas altamente específicos: Analisar as causas das enfermidades que o levaram a decadência moral, social, psíquica e entre outras, espiritual. Aqui, se trabalha as conseqüências dos abusos, ódios, medos, fantasias e outros temas que revelam a intimidade do aprendiz.

3. No discipulado existe uma via de mão dupla de comunicação: Quem recebe e armazena para si, engorda e morre. É preciso transmitir isso a outros, expressando o sentimento e pensamento, trocando experiências e idéias. É aqui, que o mentor cresce com o aprendiz e, vice-versa. Há espaço e liberdade o que proporciona aprendizado, confronto, confissão e cura.

4. No discipulado é possível trabalhar em profundidade: Cada problema possui detalhe que requerem ser vistos e analisados com olhos “clínicos” e detalhadamente criteriosos. Não basta apenas ler versos da Bíblia e orar. É necessário aprofundamento.

5. Com o discipulado evidencia-se o interesse de Deus por cada pessoa individualmente: As multidões sempre estiveram no foco de Deus (2 Cr 7.14), mas, o cuidado por cada um revela a personalidade distinta que temos um dos outros (Is 53. 4-5). O relato de Mateus mostra essa dupla objetividade divina (Mt 8.16-17). Jesus curava individualmente as pessoas que estavam reunidas em grande número. Temos evidências nos evangelhos das conversas intima de Jesus com pessoas feridas, enfermas e decadentes. O que trazia desconforto para muitos líderes que o observavam.

O que é necessário para que esse relacionamento entre mentor e aprendiz dê certo? O caráter e as ferramentas. Quanto às ferramentas para o desempenho da função pastoral apontamos:
Conhecimento da Escritura, e envolvimento com ela – basicamente as doutrinas cristãs e, acompanhamento bíblico com o seu mentor.
Conhecimento da Antropologia, abrindo espaço para o dialogo – basicamente a capacidade de ouvir e aprender tudo o que se refere à doutrina do homem.
Conhecimento da sua própria história e analise da sua vida – capacidade de enxergar a si mesmo e ter experimentado o novo nascimento e, a cura por meio da confissão.
Experiências com Deus envolvendo a sua enfermidade e cura – capacidade de olhar para o passado e ver nada além do encontro pessoal com Jesus Cristo.
Vocação Ministerial – desejo ardente por pessoas, a ponto de priorizar em sua agenda as pessoas.

Tem aprendiz que são críticos. Pode ser duro como pedra, mas, é preciso compreensão. Quando você se torne critico com os outros, Deus tornará critico com você.

Quanto ao aprendiz é preciso que aconteça uma amizade extremamente transparente. O pecado causa mal estar no nosso espírito e, para que haja cura é necessário colocar para fora esse mal estar. Ser transparente é literalmente deixar de lado o nosso orgulho e humilhar diante de Deus e do mentor confessando os pecados.

O discípulo seguindo o modelo do mentor deverá ser servo. O discípulo irá ardentemente servir a Cristo servindo a igreja e a comunidade. O bom discípulo deve centrar a sua vida em Jesus Cristo e o discipulador deve apenas ser um canal onde Cristo será o Mentor que transformará a vida.

O aprendiz de Cristo é aquele que crê e confessa que Jesus é o “SENHOR” de nossa vida e, literalmente coloca a sua vida diante de Jesus Cristo e, permite que seja o Senhor na totalidade da vida. É evidente que no texto notamos a fúria do Mentor com os seus aprendizes quando eles não conseguiram fazer o trabalho (v.17), mas, Jesus assumiu a responsabilidade para demonstrar-lhes o que deveriam ter feito (v.18). Não bastasse, ele avaliou sua atuação e notificou-os por quais razões eles falharam (vv. 19-21) ensinando e conduzindo a manter responsáveis (vs.20-21).

O método de Jesus inclui instrução, demonstração, experimentação e avaliação. Ele ensinou, mostrou como fazer, permitiu que fizessem por si próprios e, então, avaliou. Nesses passos seguiu Paulo, instruindo, demonstrando, testando e avaliando os seus jovens aprendizes.

Paulo investiu e esperava de Timóteo um investimento como retorno. Ele reconhecia que tinha necessidade do seu aprendiz (II Tm 4.9). O mentor entrega a sua vida e tudo o que tem em seus aprendizes e, também recebe sem medida de cada um deles.

Muitos dos pastores investem tempo e recursos na multidão e se desgastam em tão pouco tempo de ministério. Basta seguir os passos de Jesus e notar que ele investiu a grande maioria de seu tempo com os doze e não com doze mil. Ou seja, mais tempo com menos pessoas é igual a um maior impacto para o reino de Deus.



Fabiano Gomes, é teólogo e filósofo. Mestre em Teologia Filosófica (especializado na antropologia de C.S. Lewis), Pós graduado em Psicologia Pastoral e atuamente está doutorando em ministério (especializando em Formação de Líderes para igrejas em células). Pastor da Igreja OBPC Parque Continental I.